
Durante muitos anos, a ideia de que a musculação poderia “travar o crescimento” dos adolescentes se espalhou com força. Essa crença, repetida por pais, professores e até profissionais mal informados, ainda causa dúvidas em quem está começando a treinar. Mas, afinal, a musculação atrapalha o crescimento ou não?
A resposta é simples: não, desde que seja feita da maneira correta. Na verdade, treinar pode até ajudar o desenvolvimento físico e ósseo.
De onde surgiu esse mito?
A confusão começou há décadas, quando se observava que alguns levantadores de peso e atletas de força tinham estaturas mais baixas. Muita gente acreditou que o treino pesado era o motivo disso.
O problema é que esses atletas já tinham biotipo naturalmente mais baixo, o que favorecia o desempenho em esportes de força. Além disso, os treinos naquela época eram extremamente intensos e sem acompanhamento profissional adequado.
Ou seja: o que causava danos não era a musculação, mas o excesso de carga e a falta de orientação.
Com o tempo, a ciência evoluiu e começou a estudar o tema com mais cuidado. Hoje, há diversas pesquisas mostrando que a musculação, quando supervisionada e adaptada para adolescentes, não afeta as placas de crescimento dos ossos.
O que são as placas de crescimento?
As placas de crescimento, também chamadas de placas epifisárias, são regiões localizadas nas extremidades dos ossos longos. É ali que ocorre o crescimento em altura.
Durante a adolescência, essas áreas estão em formação e são mais sensíveis. Daí veio o medo de que o esforço físico pudesse “fechar” essas placas antes do tempo.
Mas os estudos mostram que exercícios bem planejados não danificam essas estruturas. Pelo contrário: o estímulo da musculação ajuda a fortalecer ossos, tendões e músculos, tornando o corpo mais resistente.
O que a ciência diz hoje
Pesquisas modernas indicam que o treino de força, realizado de forma segura, pode até contribuir para o crescimento saudável. Isso porque ele melhora a postura, estimula a produção de hormônios anabólicos (como o GH e a testosterona natural) e aumenta a densidade óssea.
Além disso, o treino ajuda a corrigir desequilíbrios musculares e a desenvolver coordenação motora — fatores essenciais para o crescimento harmonioso do corpo.
O que realmente pode causar prejuízos são práticas irresponsáveis, como usar cargas excessivas, negligenciar a técnica ou treinar sem orientação profissional.
Portanto, o problema não é a musculação em si, e sim a forma errada de praticá-la.
Benefícios da musculação na adolescência

Ao contrário do que muitos imaginam, os benefícios da musculação vão muito além da estética. Quando bem orientada, ela ajuda a:
- Fortalecer ossos e articulações, prevenindo lesões futuras.
- Melhorar a postura e o alinhamento corporal.
- Aumentar a autoconfiança e o foco nos objetivos.
- Apoiar o crescimento saudável, estimulando hormônios naturais.
- Evitar o sedentarismo, um dos grandes vilões da saúde moderna.
- Melhorar o desempenho em outros esportes, como futebol e natação.
Esses efeitos positivos são ainda mais fortes quando o treino vem acompanhado de uma alimentação equilibrada e boas noites de sono — fatores essenciais para o crescimento e recuperação muscular.
Cuidados importantes
Mesmo sendo segura, a musculação precisa seguir alguns cuidados básicos, principalmente durante a fase de crescimento:
- Evite exagerar na carga. O foco deve estar em aprender a técnica e controlar o movimento.
- Tenha acompanhamento. Um profissional de educação física é fundamental para montar o treino certo.
- Dê descanso ao corpo. O crescimento acontece fora da academia, durante a recuperação.
- Coma bem. Nutrientes como proteínas, cálcio, ferro e vitaminas são indispensáveis.
- Durma o suficiente. É durante o sono que o corpo libera o hormônio do crescimento (GH).
Com esses cuidados, o treino se torna um aliado do crescimento, e não um inimigo.
O papel dos hormônios
O hormônio do crescimento (GH) é um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento físico na adolescência.
Ao contrário do que alguns pensam, a musculação estimula naturalmente a liberação de GH — especialmente quando o treino é feito de forma intensa e com boa alimentação.
Ou seja, o treino certo pode favorecer o crescimento, não atrapalhar.
Além disso, o exercício ajuda a regular a produção de outros hormônios importantes, como a testosterona e a insulina, que participam diretamente da construção muscular e óssea.
Musculação vs esportes tradicionais
Enquanto esportes como natação e futebol são incentivados desde cedo, a musculação ainda sofre preconceito. Mas ela é, na verdade, uma das atividades mais seguras quando comparada a esportes de impacto.
Isso porque na musculação tudo é controlado — peso, número de repetições, tempo de descanso, volume e intensidade.
Nos esportes de contato, por outro lado, há riscos de quedas, choques e torções, que podem realmente causar lesões.
Com acompanhamento profissional e treinos bem estruturados, a musculação é tão segura quanto (ou até mais) do que outras modalidades.
Quando começar?
Não existe uma idade fixa para iniciar a musculação, mas especialistas afirmam que a partir dos 12 ou 13 anos, já é possível começar com treinos leves e educativos.
Nessa fase, o objetivo é aprender os movimentos corretamente, desenvolver coordenação e criar disciplina.
Com o tempo, conforme o corpo amadurece, o jovem pode aumentar gradualmente as cargas e a intensidade.
Conclusão
A ideia de que musculação atrapalha o crescimento é um mito ultrapassado.
Quando feita com responsabilidade, acompanhamento e atenção à técnica, ela estimula o crescimento saudável, melhora a postura, aumenta a força e traz diversos benefícios físicos e mentais.
O segredo está na moderação e na orientação correta.
Em vez de impedir o desenvolvimento, a musculação pode ser um dos pilares de uma vida ativa, forte e saudável desde cedo.
